domingo, 25 de junho de 2017

Levante Integralista de 1938 no Brasil.

Dos arquivos da AIB

Por João Artur.

Ao estudarmos a história do Brasil, logo se percebe que é complexa e requer uma analise mais apurada sobre o assunto. Aqui abordaremos apenas um resumo do que foi esse levante integralista e seu contexto histórico.

A primeira pergunta que logo nos vem à mente é: O que foi esse levante? Na verdade foi um movimento armado brasileiro, ocorrido precisamente na noite 10 de maio de 1938, realizado por integrantes da Ação Integralista Brasileira – A.I.B; contra o governo autoritário de Getúlio Vargas.

Dos arquivos da AIB

Para o governo uma noite sombrio, já que o Palácio do Catete (Palácio Guanabara – Rio de Janeiro) foi tomado por algumas dezenas de integralistas que, sob o comando do então Severo Fournier, mantiveram o presidente Vargas e alguns de seus familiares cercados por aproximadamente três horas. (Do diário de Getúlio, em Paulo Moreira Leite, “Getúlio volta à cena”, Veja, São Paulo, 13/12/1995)

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O Globo Página 1 - Edição de 11 de maio de 1938 

Detalhe da primeira página da edição das 13h de 11 de maio de 1938: Plínio Salgado tenta tomar o poder, é derrotado, mas intentona deixa mortos entre os que defenderam o governo
O Globo - Edição das 13 Horas.

Antes que a polícia ou Exército chegasse ao local, o grupo procurou resistir com armas na mão. Com a chegada do policiamento, houve troca de tiros, quando quatro guardas e oito dos atacantes vieram a óbito.

Após o ocorrido, segundo Darcy Ribeiro, “em represália, são perseguidos e presos mais de mil integralistas e deportados alguns líderes liberais que apoiavam o levante, como Otávio Mangabeira, Júlio de Mesquita Filho, Armando de Salles Oliveira, Paulo Duarte e Flores da Cunha”.  Já Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale (fundadores da AIB em 07 de outubro de 1932), chefes dos chamados camisas-verdes, como eram conhecidos os integralistas, permaneceram intocados e apoiando Vargas, enquanto Severo Fournier foi para o calabouço (onde abandonado e amargurado, morreria por causa de maus-tratos e tuberculose). Estando na prisão, recebeu carta de outro prisioneiro politico Luís Carlos Prestes:

“Nessa luta, meu amigo, não devemos ver os homens e apoiar até o próprio Getúlio se amanhã se compreender a necessidade nacional de tal programa. E quem lhes escreve isto é o homem que, pessoalmente tem a Getúlio, o mais justificável ódio. Você deve saber que foi ele quem mandou entregar a Hitler minha dedicada companheira em estado de adiantada gravidez”. (Darcy Ribeiro. 1939)

Aqui Prestes orienta o amigo prisioneiro como proceder diante da realidade e cita a deportação de Olga Benário Prestes, ocorrido em 23 de setembro de 1936 quando embarcou no navio La Coruña rumo à cidade de Hamburgo, ela era militante comunista alemã de origem judaica. Ao chegar à Alemanha sofreu torturas nos campos de concentrações Nazista. Com o nascimento de Anita Leocádia Benário Prestes, em Berlim (27 de novembro do mesmo ano), foi-lhe retirada logo dos braços, após o nascimento; com certeza a pior de todas as torturas sofridas. Olga faleceu em 23 de abril de 1942, no Campo de Extermínio de Bemburg. 

Contexto histórico e as causas do Levante.

Os integralistas foram os grandes apoiadores de Vargas no combate contra os comunistas que no Brasil vinha ganhando inúmeros adeptos. Mas com o fechamento de todos os partidos políticos por Getúlio Vargas, após a decretação do Estado Novo em novembro de 1937, frustrou a AIB, que imediatamente gerou forte descontentamento dentro da Ação Integralista Brasileira.

A partir do descontentamento traçaram alguns objetivos com a finalidade de derrubar o governo Vargas, por meio de um golpe, e com a reabertura e funcionamento da AIB, que havia sido fechada pelo governo.

O Levante integralista foi mais um dos movimentos contrários ao autoritarismo implantado pelo governo de Vargas durante o Estado Novo (1937 a 1945). O Brasil nesse período era governado por governo centralizador, e sem democracia, perseguindo e prendendo opositores. Como vimos anteriormente, fechou partidos políticos, estabeleceu a censura e controlou todos os sindicatos. Essa forma de governo gerou insegurança e insatisfação entre civis, militares e políticos brasileiros que pretendiam o restabelecimento da democracia no país. O que não foi o caso, já que em 1964, ou seja, dezenove anos depois, o Brasil passaria por outro período de insegurança e incertezas políticas. Com o golpe militar de 1964, mais uma vez essa “democracia disfarçada de ditadura”, pouco ou quase nada vivida pelo povo brasileiro, já que ao longo de sua história foi mergulhada em golpes militares e crises políticas. Ainda hoje o fantasma da ditadura assombra o Brasil com seus gritos de torturas ecoados pela sua história.

Dos arquivos da AIB

Dos arquivos da AIB


Bibliografia

CAVALARA, Rosa Maria F. – Ideologia e organização de um partido de massa no Brasil. Bauru. EDUSC. 1999.

MOTA, Carlos Guilherme (Org.). História do Brasil: uma interpretação. – São Paulo: Editora 34, 2015 (4ª Edição). Pp. 662-663.

Diário de Getúlio em Paulo Moreira Leite, “Getúlio volta à cena”. Veja. São Paulo. 13/12/1995.

Ensaio de Alejo Carpentier) - Revista do Memorial da América Latina: “Villa-Lobos”, Nossa América, Nº 1; São Paulo, mar-abr. 1989. Pp.84-8.

“Depoimento de Darcy Ribeiro” [dado a Luís L. Grupioni e Maria Denise Fajardo Grupioni]. Em BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, Nº 44, Rio de Janeiro, jul.- dez. de 1997.

Imagens

Dos Arquivos da memória da Ação Integralista Brasileira - AIB.
Dos Arquivos do Jornal O Globo.

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HISTÓRIA DE PACOTI - CEARÁ

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