quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

VISITA DO PRINCIPE IMPERIAL CONDE D'EU EM GUARAMIRANGA/CEARÁ




A pitoresca e poética cidade de Guaramiranga, situada no ponto mais elevado da serra de Baturité, quase 900 metros de altitude, e distante de Fortaleza somente 118 km, pavimentado de asfalto.
Em nenhum outro ponto do país, quiçá do mundo , se encontra clima mais ameno e saudável, e cuja temperatura por tão reduzida variações, durante o ano. O termômetro registra, ordinariamente, q mínima de 16° e a máxima de 24°, à sombra. Excepcionalmente, a mínima chega a 13° pela madrugada, ou ao anoitecer, e a máxima a 28°, esta, ocasionalmente, nas épocas de longa estiagem.
Aquela pequena Urbe serrana foi em tempos idos, ponto favorito de veraneio. Para ali afluíram anualmente, inúmeros veranistas, ordinariamente, precedentes do Amazonas, Pará e Maranhão e, até mesmo, de Estados do Sul.
Entre outras figuras de destaque que escolheram para vilegiatura a amenidade de seu clima e a paisagem tranquilizante e encantadora da serra, registra a tradição os nomes do cientista Freire Alemão que, enlevado pela amenidade do clima, classificou-o de “ eterna primavera”, o Conselheiro Lafayette, do Império, o abolicionista José do patrocínio, o General Marciano Botelho de Magalhães, irmão de Benjamim Constant, o Filósofo Farias Brito que, por sinal, casou-se com moça da terra, os acadêmicos Humberto de Campos e Gustavo Barroso.
A fase áurea do cultivo do café na serra de Baturité, que se operou na segunda metade do século XIX, proporcionou àquele enriquecimento dos donos de sítios que desse modo constituíram verdadeira aristocracia rural que surgiram, então, as vastas mansões, mobiliadas com cadeiras austríacas, consolo com tampo de mármore, cômodas com lavares, castiçais e espelhos de cristal, candeeiros com quebra-luz, pendentes do teto, piano, etc. Tudo isso era levado ao ponto terminal da Estrada de Ferro, inicialmente a Estação de Canoa, hoje Aracoiaba, e posteriormente, a de Baturité, até o cimo da montanha, por trabalhadores braçais, ou em costa de animal, através de íngreme, estreita e sinuosa vereda, o que é de pasmar. Com varas exceções eram completada com palmeiras imperiais plantadas à frente da fachada.
O príncipe Imperial, Conde D’Eu, em sua excursão política ao Nordeste, estendeu-o à Guaramiranga, onde pernoitou após haver sido homenageado com laudo banquete no Sítio Pau do Alho que foi comprado pelo coronel José Marinho ao seu primo Aprígio Alves Barreira Cravo. E desde então o casal passou a residir definitivamente no velho e imponente sobrado, uma majestosa construção do final do século XVIII que abrigava no sótão uma das únicas senzalas da Serra em Pacotí,  esse conhecido e famoso “Sobrado do Pau do Alho”, em 8 agosto de 1889 (três meses antes da Proclamação da República) recebeu a visita do príncipe consorte Conde D’Eu, casado com a princesa Isabel, em sua passagem pelo Maciço de Baturité, na época em que a propriedade ainda pertencia ao coronel Epifânio Ferreira Lima, uma das mais belas mansões da serra, cuja arquitetura lembrava casas de velhas cidades de minas Gerais, até mesmo o Coronel José Marinho, hospedou também aí, reiteradas vezes, o advogado e poeta cearense Quintino Cunha, seu colega de colégio e amigo de infância.
Em uma dessas visitas o irreverente poeta compôs a belíssima poesia –Comunhão da Serra – presenteando-a ao amigo anfitrião. Tempos depois, João Quintino compôs uma melodia para os versos do irmão, cantada em muitos serões, em reuniões festivas e serestas que se faziam pelos inúmeros recantos da Serra.
 Infelizmente, este histórico e belo casarão não resistiu as inclemências do tempo: ruiu.
Há dois episódios dignos de registrar    ocorridos com sua Alteza, nessa estada em Guaramiranga.
A viagem até Baturité foi feita em carro especial da então Estrada de Ferro de Baturité, e daí até o Sítio Brejo, já no alto da serra, em Cabridé, pois, a estrada fora construída, como parte das obras de socorro aos flagelados da “seca dos três oito”, permitindo, francamente, a utilização daquele meio de transporte.
No Sítio Brejo aguardava o Imperial visitante, luzida comitiva cavalgando belos e bem ajaezados corcéis, bem como os cavalos em que deveria prosseguir a viagem, juntamente com seus acompanhantes. De Guaramiranga partiu outra comitiva ao encontro do Conde. Ao meio do caminho um dos componentes lançou a ideia de disputarem a honra de ser o primeiro a saudar o nobre visitante. Participava da comitiva o capitão Temóteo Ferreira lima, homem vibrátil, temperamental, tido e havido como melhor cavaleiro da serra. Montava ele uma burra, animal que se utilizava preferentemente para sua montaria.
O Conde D’Eu, admirado com a recepção, retribuiu a saudação à todos os presentes. Após o banquete sua Alteza, retornou à Guaramiranga, dirigindo-se ao Sítio Cafundó, da família Caracas, onde pernoitou. Conta-se que foi sugestão sua a mudança de denominação “Cafundó” para Venezuela.
É bom ressaltar que naqueles recuados tempos desconheciam-se o uso de banheiro em casa, a não ser os rudimentares “banhos de cuia”, usados excepcionalmente. Utilizavam-se, comumente, o açude, o riacho, ou quedas d’água, providos de tosco abrigo, vedado com tapume de galhos secos ou folhas de palmeiras.
Pela manhã do dia em que deveria retornar à capital, sua Alteza manifestou desejo de tomar banho. O fato gerou certo embaraço, mas a dona da casa, mulher inteligente e de espírito prático, resolveu o impasse do seguinte modo: em um quarto situado mais para os fundos da casa, um preto, escravo liberto, trepado em um caixão e servindo-se de ancoretas (pequenos barris) improvisou o banheiro de que o augusto hóspede se utilizou para reconfortante banho.
Depois da ilustre visita de sua Alteza Imperial  Conde D’Eu, a pacata cidade de Guaramiranga não foi a mesma. Hoje, é referência no turismo do Estado do Ceará.

          Conde D’Eu

      Sobrado do Pau do Alho - Pacotí/Ceará


       Sobrado do Pau do Alho - Pacotí/Ceará
             FONTE DE PESQUISA: Texto de Antonio Patrício Ribeiro – “Guaramiranga” – da Revista Instituto do Ceará com adaptações de Artur Ricardo (estudante de pós graduação em História do Brasil, pelo INTA – Fortaleza/Ceará)
FOTOS: Google imagens e acervo pessoal.

2 comentários:

giulian vasten disse...

GENOCIDA.

JC de Guaramiranga disse...

Sou J. Cláudio B. de Menezes, natural de Guaramiranga-CE. Meu pai nasceu em 1914; passou a viver naquela cidade desde os 6 anos. Sua avó nascida em 1855/56, contava um detalhe do banho do famoso Conde: um escravo,munido de um balde com água, retirara algumas telhas do recanto do banho e por ali, postado ao lado da parede, sem ser visto, jogava o frio conteúdo no viajante que procedia de Manaus.

HISTÓRIA DE PACOTI - CEARÁ

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