sábado, 5 de dezembro de 2009

O TREM DA VIDA É MOVIDO PELO AMOR, de João Artur



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    Na noite de verão do ano de 1875, na cidade de Baturité, as pessoas se reunião todas num mesmo lugar para contarem histórias locais e fazerem serenatas. Na época não havia iluminação elétrica, somente o fogo das lamparinas clareava o breu da noite, que para os apaixonados era eterna.
Maria Clara, uma jovem bonita e educada, que até então era professora na pequena cidade, cresceu com um sonho de um dia conhecer Fortaleza e suas praias. Ela sempre dizia:
- O mar é um transportador de sonhos.
Todo o domingo pela manhã ia com os seus pais à missa na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Palma no centro da cidade. A missa para muitos era uma forma de encontrar os amigos para conversar, tomar um refresco e, até tirar fotos na porta da igreja.
- mas bom mesmo era na festa da padroeira! Conversava Maria Clara com suas amigas, Maria de Lourdes e Joaninha.
Joaninha:
- Maria Clara, ouvi falar que vai ser construída uma estação lá pras bandas da planície.
Maria Clara:
- Ah! Meu pai tava falando que ainda vai demorar, agora que chegaram a Pacatuba. Ainda fica muito distante daqui.
Lourdes:
- Será mesmo que vem?
Joaninha e Maria Clara:
- Sim! Temos que acreditar.
As amigas passaram um longo tempo conversando e já estando a hora avançada, e como era de costume almoçarem cedo, logo retornaram para suas casas.
O trem realmente era um desejo de toda a cidade, porque só assim os agricultores poderiam escoar seus produtos para a capital. Era uma esperança de desenvolvimento, mas se passaram dois anos e na de trem, parecia promessa de coronel quando queria comandar a região. Já em Fortaleza, desembarcava o jovem Walter Rietmann, vindo no navio Railway que partira da Inglaterra com o objetivo de cooperar na construção da ferrovia.
Era o ano de 1877, ano castigado pela seca, o sertão sofria as mazelas da fome e da sede. Chegavam a Baturité centenas de retirantes vindos de Quixadá, Canindé e outras cidades atingidas pela estiagem. Muitos fugiam da morte e buscavam em Baturité a sobrevivência.
A cidade não suportando a chegada de tantos retirantes, começava a sofrer as conseqüências da seca com doenças, pobreza e violência. As pessoas já não saiam de casa com medo. Havia um temor dos agricultores que já tinham perdido toda a plantação, temiam em perder também a casa e a família.
Maria Clara e suas amigas tinham medo da violência e de tantos estranhos nas ruas da cidade pedindo esmola e roubando as pessoas.
Nesse período começou a construção da Estação Ferroviária na localidade de Putiú. Muitos retirantes ajudavam na construção, tanto da estação como da Linha Férrea, como forma de conseguir um prato de comida.
Muitas dessas pessoas foram alfabetizadas por Maria Clara, que aproveitando as horas de descanso ensinava  o alfabeto e a tabuada. Como não havia escola, era improvisado um espaço debaixo da mangueira, ao lado da casa de dona Raimundinha, mulher do senhor Doca, um vaqueiro da região.
Chegou o tão esperado dia da inauguração da Estação, era o dia 02 de fevereiro de 1882. Chegava à primeira locomotiva trazendo as autoridades que inaugurariam a Estrada de Ferro que ligava Fortaleza – Baturité, mas o que  Maria Clara não esperava era que esse trem traria o homem que marcaria o seu coração para sempre.
O relógio da Estação marcava 10h :20min. Quando o trem estacionou em frente à Praça  Putiú. Junto com o povo, Maria Clara e suas amigas aguardavam ansiosamente pelas autoridades. O primeiro que desceu foi o jovem Walter Rietmann, sem dizer nenhuma palavra, Maria Clara, suspirou fundo e sentiu o coração bater rapidamente como se parasse no tempo.
O jovem rapaz cumprimentou as pessoas que ali se encontravam com um aperto de mão e saudosamente dizia: “Bom dia!”
Depois de cumprimentar as pessoas ali presente, olhando nos olhos de Maria Clara falou docilmente:
- Não te desejo somente bom dia, mas te peço a honra de beijar-te essas macias mãos. Nesse mesmo instante, nascia um amor verdadeiro e eterno.
Durante toda a inauguração o jovem dirigia um olhar sedutor para a belíssima jovem. No entanto, tudo que é bom passa, esse momento passou, quando o trem partiu levando o seu amado.
Quase todos os dias o jovem enviava um telegrama endereçado a jovem, mas infelizmente nunca chegou às mãos dela. Havia outro rapaz conhecido como Jarbas Vasconcelos que a amava em segredo e que trabalhava na Estação; logo que chegava uma correspondência direcionada a jovem, ele a queimava.
Nunca Maria Clara soube notícias daquele jovem, que passara em sua vida como um trem que passa deixando somente lembranças.
Passados três anos, o jovem engenheiro retornou para Baturité com o desejo de levar sua amada para a Europa, pois sua missão no Ceará havia chegado ao fim.
Seus pais logo rejeitaram a ideia de casamento e sua ida para Europa. Mas não ocorreu outra solução a não ser fugir. Foi o que aconteceu na madrugada do dia 9 de julho de 1885. Os jovens apaixonados fogem escondidos dentro do vagão quatro da Locomotiva Hunslet Leeds nº 106 com destino a Fortaleza e posteriormente a cidade de Londres na Inglaterra, onde casaram e tiveram um filho.
Cinco anos depois, a jovem Maria Clara acometida de uma tuberculose, morre deixando um bilhete ao seu amado:
- “Todos os dias somos movidos pelo trem do amor. Amo-te!”

(Texto de João Artur Ricardo de Oliveira, escrito na abertura do Livro de Ana Nascimento – 2º Concurso Regional de Trovadores, Delegacia de Aracoiaba. 2009.)

No texto foram utilizados elementos verídicos e fictícios para melhor compreensão dos fatos. Dedico essa história  de amor as mulheres da minha vida: Maria Ricardo (mãe), Robervany (esposa) e Ana Cecília (minha princesa).
   


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HISTÓRIA DE PACOTI - CEARÁ

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